quarta-feira, 30 de outubro de 2013

'Vivia em um corpo que não era meu', diz transexual constrangida no Enem



http://g1.globo.com/ceara/noticia/2013/10/vivia-em-um-corpo-que-nao-era-meu-diz-transexual-constrangida-no-enem.html



Aos 14 anos, a estudante Ana Luiza Cunha assumiu a transexualidade.
Cearense tem apoio dos pais, quer mudar os documentos e fazer cirurgia.



Ana Luiza conta os dias para completar 18 anos e mudar o nome nos documentos oficiais. No RG aparece seu nome de registro, Luiz Claudio Cunha da Silva, fato que causou constrangimento durante a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Desde 2011 ela resolveu mudar o que via no espelho e assumir como se sentia. "Sempre fui mulher por dentro, só não nasci assim. Vivia em um corpo que não era meu. Não aguentava me olhar no espelho com roupas de homem. Era doloroso", diz a jovem.




Até poder ser uma adolescente como tantas outras de 17 anos, vaidosa, que adora tirar fotos, redes sociais e cuidar dos cabelos, Ana Luiza teve de passar por um processo. Aos 14 anos, a estudante resolveu contar para os pais quem era. "Cheguei para minha mãe e disse: 'eu não me vejo como homem, não quero continuar a ser homem, estou vivendo uma realidade que não é minha, me ajuda'", afirma a adolescente.

A dona de casa e mãe de Luiza, Ana Claudia Cunha da Silva, lembra que passou noites acordadas pensando em como contar o caso para o marido, Fábio Luiz Ferreira da Silva. "Para mim foi muito difícil no começo. Foi uma pancada. Até porque eu não tinha conhecimento. Ele (Fábio) encarou melhor e disse logo 'vamos ter calma'". Mesmo com desinformação sobre transexualidade, o casal afirma que deu apoio incondicional à filha desde o início.




"Isso não tem fórmula, não tem um livro que vai dizer como criar um filho assim. Só sei que tem que ter diálogo e amor. Isso nós temos", diz o pai, que não esconde o orgulho da inteligência e da coragem da filha 'Lu', como os familiares a chamam. Além da amizade dos pais, o irmão, João Flávio, é um dos maiores confidentes. "Sempre dizia tudo para ele. Ele foi o primeiro a saber. Até já pegou briga na escola por minha causa", diz a transexual.

Mudanças
Ana Luiza morava com a família em Barreiras, na Bahia. Quando os pais voltaram paraFortaleza, em 2011, viu a oportunidade de mudar. “Antes, era uma coisa bem neutra porque tinha muito medo de preconceito, mas nunca conseguia gostar de coisa de menino. Como morava no interior, todo mundo me conhecia e tinha medo”, diz.

Na capital cearense, Ana Luiza deixou o cabelo crescer e passou a vestir roupas de mulher. O nome social havia sido decidido em Barreiras. "Minha mãe sempre dizia que, se tivesse uma filha, seria Ana Luiza. Agora, ela tem a filha que sempre quis", afirma. E as mudanças devem continuar, a jovem que usa um truque com o sutiã para dar mais volume ao colo conta que está com consulta marcada para dar início a um tratamento hormonal.

Na escola, Ana Luiza passou a assinar as provas com o nome social em 2012. "Assinava 'Luiz Claudio' e, entre parênteses, coloca 'Ana Luiza'. Até que fui chamada na coordenação, perguntaram o que estava acontecendo. Eu tive aceitação total. Na chamada desse ano, nos documentos que vêm da escola para minha casa, todos vêm com Ana Luiza. Vendo que todo mundo me tratava assim, me sinto muito feliz e cada vez mais certa que sou mulher."




Para o pai, o ambiente escolar foi o primeiro teste do que Ana Luiza poderia enfrentar fora de casa. Como Luiz Cláudio, a relação com a escola era outra. "Não ia ao banheiro na escola, pedia para usar o banheiro dos professores", diz Luiza.

A estudante planeja cursar arquitetura e morar no Canadá. Ela também pensa em fazer cirurgias como a de mudança de sexo, mas sabe que precisa chegar aos 18 anos para fazer as intervenções. “Não sei se vou fazer pelo SUS (Sistema Único de Saúde) porque a fila é imensa. Sei que preciso de muitos laudos médicos, mas quero fazer. Vai ser quando vou ser mulher totalmente.” Os pais apoiam a decisão de Ana Luiza de fazer a cirurgia de mudança de sexo e, desde que souberam que a filha era transexual, a levaram para um acompanhamento psicológico.




Constrangimentos
Quando realizou a prova do Enem no fim de semana, Ana Luiza foi levada a outra sala para que fiscais conferissem se a candidata era a mesma da identidade, que tem a foto dela ainda com aparência masculina. "Estou totalmente diferente da foto da identidade. Estava preparada para o que aconteceu. Mas, como na minha sala só tinha homem, fiquei com medo de fazerem chacota e piadinha. Tanto que deixei todos os documentos virados, não mostrei para ninguém, só para os fiscais. Acho normal o procedimento, não achei legal o fato de ser levada para outra sala”. A jovem não conferiu o gabarito das provas, mas disse ter se saido bem nas provas relacionadas à humanas.

Luiza diz que esse episódio foi o primeiro constrangimento como transexual. Ela conta que já foi barrada em provadores femininos quando tinha uma aparência masculina e impedida de entrar no cinema. “Quando compro meia e olham para minha carteira de estudante pensam que é de outra pessoa. Também evito ir para hospitais porque sempre chamam meu nome do registro em voz alta.”




Repercussão
Com a repercussão depois da prova do Enem, Ana Luiza diz que foi procurada nas redes sociais por pessoas com dúvidas sobre a sexualidade. "Quem vive uma situação como a minha tem de ter amor próprio e a vontade de realizar o sonho. No meu caso, eu tive apoio da família. Mas tem gente que não tem, ainda é uma realidade ser expulso de casa", diz.

Por meio de grupos na internet, ela soube de outras histórias de transexuais. "Tenho amigas que tiveram que ir ao caminho da prostituição por causa de rejeição. Porque não conseguiram emprego e apoio de ninguém”, lamenta.

Além de ajudar outras pessoas, desde a realização do Enem, a adolescente conta que o número de cantadas e pedidos de namoro aumentou. "Se me aceitarem do jeito que eu sou e eu estiver apaixonada, vou namorar. Muitos perguntam: 'Se eu gostar de você, eu sou gay?'", revela Ana Luiza. "Eu sou uma mulher. A maioria não entende. A questão do gênero é uma coisa. A questão de com quem eu quero me relacionar é outra."

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

It Gets Better!

Mensagem de esperança de empregados da Pixar Animation Studios, em prol do Trevor Project, que luta contra o Bullying contra jovens gays.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Menino chamado de 'Félix' por professora vai mudar de escola


A mãe do menino de 11 anos que foi comparado, por uma professora de geografia, ao personagem homossexual Félix da novela "Amor à Vida", resolveu tirá-lo da escola para evitar que ele seja hostilizado por colegas.

O estudante estava matriculado na Escola Estadual Professora Juracy Neves de Mello Ferracciú, no bairro Noiva da Colina, em Piracicaba. O menor não foi à aula hoje e não deve retornar à instituição de ensino.

De acordo com a mãe do menino, após o registro da ocorrência, o menino chegou a ir para a escola, na quinta-feira (8), mas voltou a ser hostilizado pelos colegas e não conseguiu permanecer na escola até o fim das aulas. "Ele pediu para que me ligassem para buscá-lo. Estava triste, chorando. Não posso deixar que ele fique em um lugar assim", contou a mãe.

A mãe ainda disse que o menino passou por um trauma muito grande há cinco anos quando perdeu o pai. "Ele já tem isso muito forte, e agora ainda teve essa questão. Ele está traumatizado, e vou buscar uma nova escola para protegê-lo. Essa questão do Félix tomou uma proporção imensa, inclusive com os alunos do período da manhã comentando", contou.
Caso

O adolescente estuda na quinta série do ensino fundamental. A professora de geografia comparou o menor a ao personagem Félix na quarta-feira (7), e a mãe registrou, na mesma data, um boletim de ocorrência por injúria. Se condenada, a professora, identificada apenas como Gislane, poderá ser presa por até um ano, além de pagar multa.

Segundo versão registrada na denúncia da mãe, ao chegar para buscar o filho na escola, foi informada que ele já tinha ido para casa. A mãe encontrou o garoto em casa chorando por causa da comparação da professora, que comentou em sala que ele estava parecendo com um personagem de novela, sem revelar, contudo, qual era.

Depois, o garoto foi satirizado por colegas de sala, que afirmaram que o personagem seria Félix. A professora confirmou que se referia ao personagem de "Amor à Vida" e o garoto teria então começado a chorar.

De acordo com o relato do garoto, a professora pediu desculpas e falou que tudo se tratava de uma brincadeira, que ele não precisava ficar triste. Na saída da escola, ele teria sido novamente hostilizado por colegas, que passaram a chamá-lo de Félix. A mãe relata ainda ter procurado a coordenação da escola, que tentou, na versão dela, defender a conduta da professora ao invés de tentar resolver o problema.
Ações

A mãe revelou, ainda, que a mudança de escola não fará com que ela retire a denúncia e que vai buscar a punição da professora. "Uma palavra pode acabar com a vida de uma pessoa, e essa professora não pode agir assim. Botar panos quentes é fácil, mas não é o que quero. Quero que ela dê a aula dela, ensine o que tem que ensinar, não comente sobre o visual dos seus alunos", disse a mãe.

A reportagem tentou falar com a direção da escola, mas foi informada por telefone que ninguém da instituição estava autorizado a falar sobre o caso. A Diretoria de Ensino de Piracicaba reiterou que lamenta o ocorrido e que haverá, na segunda-feira, uma reunião entre a mãe, a professora e a diretora da escola para tentar resolver o caso.

Professora é presa por ofensas a homossexuais

de: http://www.dm.com.br/texto/10120-professora-e-presa-por-ofensas-a-homossexuais

A professora J.O.S.C., de 41 anos, foi presa em flagrante, sexta-feira (7), em Tietê, a 145 km de São Paulo, acusada de ter ofendido um casal de homossexuais que andava de mãos dadas pelas ruas da cidade. De acordo com a Polícia Militar, os dois homens, de 23 e 47 anos respectivamente, foram chamados de 'bichas e boiolas' pela professora ao cruzar com ela pela rua. Os ofendidos chamaram a polícia. De acordo com a PM, os policiais que atenderam a ocorrência foram desacatados pela mulher, que os chamou de 'coxinhas'.

Ao ser posta na viatura, ela chutou a porta do veículo, causando estrago. O delegado da Polícia Civil Fernando César dos Reis autuou a professora por desacato, dano ao patrimônio e injúria motivada por homofobia (intolerância contra homossexuais). O delegado fixou fiança no valor R$ 1 mil, mas ela se negou a pagar a quantia e foi levada para a Cadeia Feminina de Votorantim. Familiares da acusada pagaram a fiança e ela foi libertada ontem.

Um projeto de lei na Câmara Federal criminaliza a homofobia no Brasil. O projeto prevê que os preconceitos motivados por orientação sexual e identidade de gênero sejam equiparados aos crimes previstos na Lei 7.716/89, que pune os preconceitos por etnia, cor, religião e nacionalidade. A proposta enfrenta resistência dos representantes de igrejas no parlamento.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Em protesto, alunos usam saia no Colégio Bandeirantes - São Paulo

"Eu vou a luta é com essa juventude, que não foge da raia a troco de nada..."




POR BOB FERNANDES

 
Manhã desta segunda-feira, 10, no tradicional e conceituado Colégio Bandeirantes, o "Band", situado na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Cerca de 250 alunos estão assistindo a aulas – meninos e meninas – vestindo saias. O movimento, denominado "Saiaço", é um protesto contra a atitude do colégio, que na quinta-feira, 7, e sexta-feira, 8, impediu que JF e PB, 17 anos, ambos alunos do 3º colegial, assistissem a aulas por estarem de saia.
Na quinta-feira, JF foi à festa junina do colégio fantasiado de "mulher caipira", de saia, e viu-se obrigado a trocar de roupa. No dia seguinte, PB,  também de saia, teve que deixar a sala de aula e o colégio. Nesta segunda, à entrada da escola, meninos e meninas trocaram de roupa e vestiram as saias.
O Colégio Bandeirantes tem uma publicidade na qual enuncia o espírito que o guia: "É comum ver alunos chegando de sandálias. Eles sabem que não são avaliados pelo que têm nos pés". Mas os alunos JF e PB colocaram o Bandeirantes em uma saia justa.
Na quinta-feira, a festa de São João foi na meia hora do recreio. Um professor chamou JF e disse que aquela era uma festa caipira e não "uma parada gay". JF foi levado à coordenação, que telefonou para a mãe do aluno. Ela não se incomodou com o gesto do filho, mas JF viu-se obrigado a tirar a fantasia para continuar assistindo às aulas. No dia seguinte, o outro aluno, PB, repetiu o gesto.
PB, que tem namorada, já havia ido de saia ao Band e, de quando em quando, veste-se assim. Ao chegar à escola, um bedel, em dúvida, consultou um dos coordenadores sobre a postura do estudante. Voltou a PB e informou: "Você não está autorizado a entrar. Ou você troca a roupa, ou o colégio vai ligar para os seus pais".
É de PB o relato que se segue.
- Por favor, pode ligar.
O coordenador, ao ser informado da resposta de PB pelo bedel, chamou o aluno para conversar e perguntou o motivo da saia.
PB não contou o episódio de JF e a saia no dia anterior. Apenas disse que gosta de usar saia de vez em quando. O coordenador argumentou que aquilo "poderia ofender as pessoas". PB respondeu:
- Eu acho que não. Ou, pelo menos, não deveria ofender. Não há nada de ofensivo nisso.
Depois de, mais uma vez, argumentar que o gesto de PB "feria a comunidade", o coordenador, segundo relato do aluno, alertou:
- Eu autorizo sua entrada, mas se algum professor tirar você da sala eu acatarei.
Tudo isso antes da primeira aula, logo no início da manhã. Quando já corria a quinta aula, outro bedel entrou na sala e disse a PB que uma coordenadora, já não mais o coordenador, chamava-o.
A coordenadora disse ao aluno que, embora outro coordenador tivesse autorizado, o diretor da escola havia chegado e desautorizado sua permanência em sala de aula e que ele, aluno, deveria ir pra casa.
PB perguntou à coordenadora qual seria a razão para a medida. A resposta foi a tradicional “cumprido uma ordem”. O aluno pediu para falar com o diretor, a coordenadora solicitou que ele marcasse um horário.
Contatada pela coordenação, a mãe de PB, Fernanda Zanetta, foi ao colégio. Na conversa com a coordenadora, Fernanda citou um recente "saiaço" de alunos da USP, também um protesto, e opinou: o Band deveria abraçar a discussão e não tomar a atitude que tomou. 
PB não pode assistir à sexta aula na sexta-feira, a de Filosofia. A coordenadora que conversou com PB ministra o curso de CPG (Convivência em Processo de Grupo), que, entre outros temas, trata de sexualidade e drogas.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Diretora transexual de colégio público diz ter de 'matar um leão por segundo'

de: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/108873-diretora-transexual-de-colegio-publico-diz-ter-de-matar-um-leao-por-segundo.shtml

PARANÁ
Diretora transexual de colégio público diz ter de 'matar um leão por segundo'
DE CURITIBA - Não há estatística oficial, mas a professora Laysa Machado, 41, gosta de dizer que é uma das únicas --senão a única-- diretora transexual eleita democraticamente no ensino público no país.
Há três anos, ela é diretora-adjunta de um colégio estadual de São José dos Pinhais (região metropolitana de Curitiba), e foi reeleita em 2011, mesmo diante da "resistência de uma minoria", segundo ela.
"Você tem que matar um leão por segundo. Se o hetero precisa ser o melhor, a diversidade tem que ser bilhões de vezes melhor", diz Laysa.
Formada em história e letras, a professora concursada da rede estadual relutou antes de assumir a identidade. "Eu sublimava toda a minha angústia com os estudos."
Na cidade natal, no interior do Paraná, enfrentou rejeição da família e foi demitida do colégio católico em que lecionava sob acusação de "subversão" após sair em público com seu primeiro vestido, aos 27 anos.
Mudou-se para Curitiba, iniciou o tratamento hormonal e, quatro anos depois, fez a cirurgia de readequação genital. Hoje, é mulher inclusive em seus documentos.
No Colégio Estadual Chico Mendes, onde está desde 2004, diz que enfrentou preconceito até dos colegas de trabalho, o que, segundo ela, venceu aos poucos, às custas de trabalho.
"Ela sofreu, mas sempre mostrou que, em primeiro lugar, era uma educadora", conta a colega Gisele Dalagnol.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O que é o que é?

Um enigma: O que é, o que é, que existe em todos os cantos do mundo. É acolhido e celebrado em alguns países, mas é ilegal em 76? O que é que está escondido por medo da vergonha pública, encarceramento, tortura, ou em 76 países até mesmo a pena de morte? O que é, o que é, que separa famílias? O que é que faz com que as pessoas enfrentem o risco de violência brutal diariamente? Quê características simples fazem pessoas serem tratadas como cidadãos de segunda classe em todos os lugares que vão? O que faz com que crianças sejam expulsas de casa, estudantes intimidados e expulsos das escolas? e trabalhadoras e trabalhadores demitidos sem aviso prévio? O que é que existiu em todos os países ao longo da história, mas algumas pessoas ainda consideram "anormal"?

terça-feira, 14 de maio de 2013

Gays rejeitados pelos pais são oito vezes mais suscetíveis ao suicídio



"Estranhamente Normal – A Luta de Uma Família para Ajudar Seu Filho Adolescente a Aceitar Sua Sexualidade". Assim pode ser traduzido para o português o título do livro "Oddly Normal – One Family's Struggle to Help Their Teenage Son Come to Terms With His Sexuality" (Gotham Books), escrito pelo americano John Schwartz.

Na obra, o jornalista do New York Times relata a história de seu caçula, Joseph, e todos os percalços que ele, sua mulher, Jeanne Mixon, e o filho enfrentaram desde a infância do garoto até a adolescência, sobretudo na escola. O pano de fundo é o fato de Joe, como muitas vezes é chamado pelo pai no texto, ser gay. 
"Depois de tudo por que passamos, sentimos que outros pais poderiam se beneficiar ao ouvir nossa história", diz, por e-mail, John Schwartz. "O livro conta o que vivenciamos ao criar Joseph e como foi ajudá-lo a superar sua própria infelicidade e isolamento, lidando com escolas e pessoas que praticavam 'bullying'".

É um tema muito sério. Uma pesquisa publicada no periódico científico "Pediatrics" e citada por Schwartz em "Oddly Normal" mostra que crianças LBGT rejeitadas pelos pais correm um risco seis vezes maior de sofrer com níveis altos de depressão e tentam oito vezes mais o suicídio.

"É preciso uma vigilância real na escola e nas famílias", diz Schwartz. Ele sabe do que está falando: logo no prefácio da obra o jornalista descreve a tentativa de suicídio de Joseph, aos 13 anos, após uma querela com colegas do colégio em 2009. Joe resolveu submeter os meninos ao próprio veneno e começou a avaliá-los com notas, de maneira semelhante à que eles faziam em relação às meninas.


A turma não gostou e reclamou com um supervisor. O caso foi parar nos corredores da escola e, horas mais tarde, Joseph foi parar no hospital, depois de engolir várias cápsulas de um anti-histamínico em casa. Tudo aconteceu após o adolescente "sair do armário", primeiro para a família e, gradualmente, no ambiente escolar. No entanto, a homossexualidade de Joseph nunca foi um problema para seus pais. Mas isso não é a regra.
"Para a mãe e o pai, não é fácil", explica o psiquiatra Alexandre Saadeh, que é coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Identidade Sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Edith Modesto, terapeuta especializada em diversidade de orientação sexual e identidade de gênero, de São Paulo, completa: "Eles geralmente não foram preparados para uma criança diferente e têm internalizado aquela ideia do menino que vai crescer, pegar todas, depois se casar e ter filhos e da menina que vai namorar um rapaz de caráter, se casar, trabalhar, ajudar o marido e lhes dar netos". 
Não raro, há os que pensam que a homossexualidade de seu descendente é provocada por problemas hormonais e aqueles capazes de contratar garotas de programa para fazer sexo com o jovem. Sem contar os que se indagam como o filho sabe que é gay se nunca transou com uma mulher. A esse questionamento, Edith, que é fundadora do GPH (Grupo de Pais de Homossexuais), retruca: "O pai já teve relações com um homem para saber se é hétero?"

De acordo com Schwartz, há muitas famílias nos Estados Unidos que rejeitam seus filhos homossexuais, como em qualquer outro lugar do mundo. "É trágico, especialmente quando você entende que o fato de ser gay está ligado a fatores que estão além do controle de qualquer um. Então, por que rejeitar uma criança, maltratá-la ou fazê-la infeliz por uma coisa que ela não pediu?" 

A terapeuta Edith Modesto, que fundou o GPH em 1997 depois de descobrir que um de seus filhos era gay, fala que muitos pais que a procuram se sentem culpados por não aceitarem o filho gay. Dessa forma, ela busca fazer com que eles se sintam acolhidos nas reuniões do grupo. "Eu me apresento como um deles, como alguém que também teve dificuldade. Essa identificação é fundamental". O trabalho com pais e filhos é feito em paralelo [ao realizado com os filhos], além de ser direcionado na reaproximação, no vínculo familiar.  
A especialista lembra que, diferentemente de um menino ou de uma menina negra, por exemplo, o jovem gay, quando discriminado na escola, não ganha colo paterno e seus progenitores não vão lá reclamar. "Ele vai chorar na cama, sozinho. Não tem quem o apoie". E se apoio é fundamental para qualquer adolescente, imagine para aquele que sente atração por pessoas do mesmo sexo.

"Todo homossexual passa por um período de sofrimento por se perceber diferente", explica o psiquiatra Alexandre Saadeh. "Sem o amor da família, tudo é muito mais difícil para uma criança gay", afirma John Scharwtz. Mas mesmo com o auxílio dos pais, a situação é delicada, porque a sociedade pode ser bastante dura com adultos e crianças homossexuais, diz o americano.


Para os transexuais, que desde pequenos sentem como se tivessem nascido no gênero errado, o panorama chega a ser ainda mais delicado. "São os que sofrem mais preconceito porque não são aceitos como sujeitos", diz Edith Modesto, que aponta a carência de profissionais especializados nas peculiaridades de adolescentes LBGT como um problema no país, o que só reforça que a participação dos pais na fase de descoberta da sexualidade é essencial.


"Se o pai e a mãe percebem que o filho ou a filha são gays devem ficar disponíveis, demonstrar respeito. Respeito é o básico, aceitar é uma evolução", afirma Saadeh. 
O jornalista John Schwartz recomenda aos pais que estão procurando entender e acolher seus filhos gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais que assistam ao vídeo "It Gets Better" (Fica Melhor, em tradução literal), no qual adultos gravam depoimentos para dizer a crianças, que talvez sejam gays, que tudo ficará melhor se elas persistirem e passarem por sua adolescência difícil." Eu e minha mulher queríamos dizer [com o livro] para os outros pais que tudo também fica melhor para nós".

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Aos 12 anos, Theo Chen é categórico: "Vocês não deviam julgar as pessoas pela sexualidade!"

"E dai se eu andar pela escola afeminado?"


A expectativa da sociedade por padrões heteronormativos, que de forma menos abstrata significa, mais ou menos, a inquisição de amigas, amigos, colegas de sala, parentes, vizinhos sobre a sexualidade, sobre o que gostamos de fazer, como gostamos de nos vestir, sobre nosso cotidiano acontece em qualquer lugar, e com isso parece que não acontece em lugar nenhum.
Theo Chen expôs no youtube a perseguição que sofre "Você é guei?" , e ele só pode responder "Não sei!" Afinal, qual capacidade temos ao 12 anos de nos afirmar identitariamente naquilo que todos dizem para não sermos? Ou como nos enquadramos em coisas que ainda não nos importa?
"E sabe o que é bizarro? Que isso vem de mim, que tenho 12 anos e já sei disso! Eu devia estar aproveitando a escola, e não estou! Porque as pessoas falam de mim o dia todo!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

A defesa de uma família protetiva, por Felipe Areda

Além de poeta, Felipe Areda também é militante do Partido Socialismo e Liberdade, e publicou hoje um texto sobre como a militância feminista e LGBT defende uma família protetiva, justa e livre da violência. Para muitas e muitos LGBTs, as violências sofridas na escola têm de ser escondidas dos familiares, justamente quem tem a responsabilidade da proteção e do cuidado, pois esses ameaçam com mais violências. Pelo fim de famílias e escolas violentas é o pelo o quê temos lutado!

http://csolpsol.org/mulheres/a-defesa-de-uma-familia-protetiva-2/



Afinal, qual o modelo de família que desejam proteger os deputados que hoje fazem parte da Comissão de Direitos Humanos e Minorias?

Felipe Areda* em colaboração para o site do CSOL

É recorrente o discurso que acusa o movimento pela diversidade sexual e pelo fim de qualquer opressão de gênero de estar destruindo a família. No campo de batalha evidenciado na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados nas últimas semanas, é comum ouvir dos apoiadores do Deputado Marco Feliciano palavras de ordem de defesa da família. É dita aos berros, como quem protege o mais sagrado ou como quem espera que uma palavra antiga e mágica, lançada com muita fé, seja capaz de derreter qualquer militante feminista, lésbica, gay, bissexual, travesti ou transexual. O uso ideológico da ideia de família para desmobilizar discussões que visam enfrentar opressões naturalizadas em nossa sociedade não é recente. Em 1964, em 19 de março, 500 mil pessoas marcharam da Praça da República a da Sé sob o slogan: “A família que reza unida, permanece unida”. Com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade a burguesia alardeava o risco do Comunismo à família brasileira. Quem não lembra ter alguma vez ouvido que Comunistas comiam criancinhas?

Talvez a frase quisesse distorcer que no Comunismo, as crianças comem, como Cuba evidenciou ao ser o único país da América Latina e Caribe a erradicar a desnutrição infantil. O fato é que a Marcha da Família de 1964 tinha menos relação com Deus do que com a reação da burguesia latifundiária contra as reformas de base defendidas por João Goulart, as quais incluíam a reforma agrária e urbana, a erradicação do analfabetismo e transformações nos setores políticos e fiscais. Também, embora ostentasse em seu nome a Liberdade como objeto de luta, tinha muito pouco a ver com ela, já que essas manifestações foram tomadas pelos militares como legitimadoras do Golpe de 64.

Agora o discurso ideológico de proteção à família ganha força como argumento para deslegitimar e atacar as reivindicações de direitos sociais de mulheres e lgbts. O empoderamento das mulheres e a luta contra a homofobia destruirão a família – alardeiam os conservadores. Daqui alguns dias, em analogia as histórias de Sininho e Peter Pan, dirão que cada vez que alguém pronuncia em voz alta “PLC 122”, uma família desaparece da face da terra. Isso nos obriga a refletir sobre o que significa esse conservadorismo. O conceito de conservador nos remete a alguém que defende a manutenção e preservação de algo – algo que segundo eles representam o fundamento da sociedade e espécie. Dentro dessa perspectiva a família é o que há de mais natural e talvez, justamente por isso, é tão frágil que precisa ser constantemente protegida, afinal – como diria Oscar Wilde – “a naturalidade é uma pose difícil de ser mantida”.

Chamo esse discurso de ideológico, para evidenciar seu papel de mascaramento. O discurso reacionário faz parecer que as famílias brasileiras estão e sempre estiveram bem, que são o reduto da felicidade e do bem viver e que por isso devem ser salvaguardadas das ameaças externas: na família está a proteção, no mundo a violência. Infelizmente, essa não é a realidade. Esse discurso mascara que a família é não apenas o local onde grande parte das violências ocorrem, como sua estrutura a legitima e a oculta.

Por violência entendo ações pontuais ou contínuas que estabelecem desigualdade, por meio da força, da coerção psicológica e econômica ou da naturalização, para fins de exploração, dominação e opressão, bem como qualquer discurso ou ação que impeça ou anule a fala ou ação de outro sujeito, submetendo-o a sua vontade e tratando-o como coisa ou sujeito menor. Também como a família é um espaço de desenvolvimento do sujeito e dentro dela há pessoas que dependem de cuidados prestados por familiares, também é violência a omissão do responsável em supervisionar ou prover necessidades básicas de criança, adolescente, pessoa idosa ou pessoa com deficiência que necessite de cuidados. A violência intrafamiliar pode se dar por meio da violência física, da violência psicológica, da negligência, do abandono, da violência sexual e da exploração da força de trabalho. Seus principais alvos são: as crianças e adolescentes, as mulheres, as pessoas idosas e as pessoas com deficiência.

Os marcos legais para o enfrentamento da violência familiar são principalmente a Lei Nº. 8.069/1990, a Lei Nº 10.741/2003 e a Lei Nº 11.340/2006. Elas instituíram, respectivamente, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Estatuto do Idoso e a Lei Maria da Penha. O ECA enfrenta a violência contra crianças e adolescente no espaço familiar ao defini-las como sujeitos de direitos – e não como sujeitos “menores” – rompendo o adultocentrismo da legislação e cultura brasileiras, aponta o dever da família de garantia e proteção de seus direitos, especifica a convivência familiar como direito, bem como constrói instancias democráticas e comunitários de proteção ao criar os Conselhos Tutelares como parte do Sistema de Garantia de Direitos. O Estatuto do Idoso assegura às pessoas idosas os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana e também cria mecanismo de proteção contra a omissão ou abuso da família. A Lei Maria da Penha cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, seja a perpetrada por maridos, cônjuges, companheiros e companheiras, seja a por pais, irmãos e outros parentes (o que torna a Lei Maria da Penha uma legislação fundamental para a proteção de mulheres lésbicas das violências sofridas no espaço familiar, embora esse papel da Lei Nº 11.340/2006 não seja divulgada).

A sociedade brasileira recrudesce seu discurso conservador toda vez que uma legislação busca romper a estrutura de violência que ocorre dentro do espaço familiar. Comumente vai a público defendendo a violência como educativa e fundamental para o desenvolvimento da família. É que temos visto dos debates em torno do Projeto de Lei Nº 7672/2010, que altera o ECA, estabelecendo o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos sem o uso de castigo corporal ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação, ou qualquer outro pretexto. Desesperados frente a derrocada da legitimação da violência, a sociedade brasileira clama pelo direitos de bater nos filhos e filhas e tratá-los como posse, como outrora foram os africanos e africanas escravizadas, as empregadas domésticas e as esposas.

O que o discurso ideológico de proteção da família mascara, os dados não deixam esconder. A cada 5 minutos, uma mulher é agredida no país, a cada 2 horas, uma é assassinada e em 80% dos casos o agressor é o cônjuge ou namorado. Os dados do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes do Ministério da Saúde apontaram que em 2011, 36% da violência sofrida por crianças de 0 a nove anos foi negligência ou abandono e 35% violência sexual. Diferentemente do que se costuma afirmar, a violência está em casa, é predominantemente perpetrada por parentes e pessoas conhecidas da vítima e por homens heterossexuais. Segundo a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, 38,2% dos agressores homofóbicos são da própria família. Há outras violências ainda mais naturalizadas. Podemos citar como no Brasil é comum que familiares como pais, padrastos, tio, irmãos e primos mais velhos obriguem os meninos a terem contato com material pornográfico desde a pré-adolescência ou que mesmo os levem a profissionais do sexo para que sejam “iniciados” sexualmente.

Os movimentos sociais que visam superar essas violências não estão buscando desmoronar a família, mas desmoronar uma estrutura densa e arcaica de violência que não permite que a família cumpra sua função protetiva. Quando me dizem que temos que temos que proteger a família, costumo dizer que precisamos enfrentar as violências que ocorrem dentro dela para fortalecê-la em sua função protetiva. É nesse sentido que a luta pela afirmação da dignidade da diversidade sexual e pelo fim de qualquer opressão de gênero não quer destruir a família, mas quer fortalecê-la. Não adianta gritar o nome da “família” em atos e manifestações, como se o discurso de proteção à família se opusesse à luta dos movimentos feministas e LGBT – pelo contrário.

Nesses anos de militância no movimento LGBT e pelos direitos das crianças e adolescentes, tenho visto barbaridades que lagrimejam meus olhos ao tentar descrevê-las: adolescentes que precisam fugir as pressas de casas deixando para trás até suas roupas para não sofrer mais um espancamento, pais que expulsam os filhos de casa e sem pesar trocam a fechadura, pais que submetem filhos e filhas ao cárcere privado, a exorcismos, à violência sexual, até que o adolescente atente contra sua própria vida, pais que preferem dizer aos parentes que o filho faleceu a dizer que ele vive uma relação homossexual. Precisamos fortalecer a família como espaço de desenvolvimento constante, de cuidado, de carinho, de afeto, de respeito mútuo, de compreensão. Creio que nenhuma pessoa, religiosa ou não, discordaria desse objetivo. Mas não é essa família que a maior parte da população possui hoje, essa família precisa ser construída.

O discurso de destruição da família afirmado pela Bancada de Deputados que me recuso a chamar de evangélica – pois o discurso de ódio não representa o povo cristão – cada vez mais é utilizado para se opor a lutas sociais. A tática que esses deputados estão adotando é a difamação das e dos ativistas dos movimentos feministas e LGBT. Publicações virtuais e panfletos estão sendo divulgados distorcendo ou forjando falas de ativistas para fazer parecer que eles e elas são contra família, são contra o povo cristão ou que defendem a violência sexual a crianças e adolescentes. Já foram alvos o Deputado do Psol Jean Willys, a ativista Indianara Siqueira, a pesquisadora Tatiana Lionço e, mais recentemente, o professor brasiliense Cristiano Lucas. Em vídeo publicado semana passada, o Deputado Jair Bolsonaro fez uma distorção grosseira da fala do professor dando conotações pedófilas para a sua fala. Em nome do povo cristão, Jair Bolsonaro descumpre com sua difamação e discurso de ódio os fundamentos mais básicos do cristianismo. Como consta no Livro de Provérbios (cap 10, versículo 18) “O que retém o ódio é de lábios falso, e o que difama é insensato”. O livro de Salmos, também bastante explicito: “Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? (…) o que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho” (Salmo 15: 1-3).

Quem conhece Cristiano Luís sabe da sua trajetória em defesa dos direitos humanos, de uma educação pública de qualidade e por um mundo que nas quais crianças e adolescentes não sejam mais submetidos às violências as quais muitas delas ele mesmo já foi submetido. E quem pensa que a distorção, a manipulação e a mentira são armas eficazes contra quem cresceu tendo que aprender a lutar está enganado. O discurso de ódio e a difamação não passarão!

O que devemos nos perguntar e o que esse discurso tenta mascarar. Assim como 1964, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade não tinha nada a ver com Família, Deus e Liberdade, mas muito com os latifúndios, a burguesia e o poder, essa mobilização em defesa da família trás um projeto oculto. As negociações dessa bancada com a bancada ruralista para manutenção do PSC na Comissão de Direitos Humanos e Minorias talvez nos dê algumas pistas




*Felipe Areda é antropólogo, educador social, comunista e luta pelo direitos de crianças e adolescentes terem comida em sua mesa e não sofrerem desnutrição como sofrem em um regime capitalista.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Curta "Eu Não Quero Voltar Sozinho" é censurado no Acre!

Carta aberta sobre a censura do curta metragem "Eu Não Quero Voltar Sozinho"

Queridos amigos e colegas,

No início da semana recebemos a notícia de que a exibição do curta Eu Não Quero Voltar Sozinho, como parte do programa Cine Educação, havia sido censurada no Acre.

O programa Cine Educação, uma parceria com a Mostra Latino-Americana de Cinema e Direitos Humanos, tem como objetivo "a formação do cidadão a partir da utilização do cinema no processo pedagógico interdisciplinar" e disponibiliza diversos filmes cujos temas englobem os direitos humanos, de modo que professores escolham quais são mais adequados para serem trabalhados em aula.

Na semana passada, no estado do Acre, uma professora escolheu o curta Eu Não Quero Voltar Sozinho e exibiu-o para seus alunos. Para aqueles que não conhecem, a trama narra a história de Leonardo, um adolescente cego que, ao longo do filme, vai se descobrindo apaixonado por um novo colega de sala.

Alunos presentes na exibição confundiram o curta metragem com o "kit anti-homofobia" e levaram a questão aos líderes religiosos, que mobilizaram políticos da região com o intuíto de proibir o projeto Cine Educação como um todo. Nenhum desses representantes públicos deu-se ao trabalho de ir atrás da verdade e descobrir que se tratava de um programa pedagógico com o intuito de levar o debate sobre direitos humanos para a sala de aula. Mais uma vez no Brasil, a educação perde a batalha contra o poder assustador das bancadas religiosas e conservadoras.

Neste momento, o programa Cine Educação está paralisado. Enquanto isso, os secretários de Educação e de Direitos Humanos do Acre estão articulando com o governador a possibilidade de garantir sua continuidade, enquanto os líderes evangélicos forçam o cancelamento definitivo do programa. Pelo que sabemos, mesmo que o programa seja reativado, o curta Eu Não Quero Voltar Sozinho será excluído do catálogo e não mais ficará disponível para que professores o utilizem no debate de questões que envolvem algo tão elementar quanto a sexualidade humana e tão importante quanto a deficiência visual.

De forma arbitrária, em uma república federativa cuja Constituição atesta um Estado laico, a sociedade está sendo privada de promover debates. Como pretendemos que adolescentes consigam respeitar a diversidade e formem-se cidadãos lúcidos, pensantes e ativos se informação, arte e cultura (sem qualquer caráter doutrinário) lhes são negadas?

Eu Não Quero Voltar Sozinho não é um filme proselitista, tampouco ergue bandeiras de nenhuma natureza. É apenas uma obra de ficção amplamente premiada em festivais de cinema no Brasil e no exterior, cujos predicados artísticos e humanos transcendem qualquer crença. Ademais, se assuntos referentes à orientação sexual dos indivíduos e seus respectivos direitos civis estão na pauta do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional, por que não debatê-los em sala de aula? Que combate sombrio é esse, que reacende a memória de um obscurantismo Inquisidor?

Produtores do Eu Não Quero Voltar Sozinho

Daniel Ribeiro e Diana Almeida

Abaixo, o curta metragem na íntegra:

sábado, 30 de março de 2013

Feliciano não representa alunas e alunos de Pirassununga!

Alunas e alunos do Colégio Objetivo de Pirassununga tiveram a iniciativa de protestarem contra o Deputador-Pastor Marcos Feliciano!

Homofobia em Alagoas


Em escolas do interior ou urbanos, nas periferias ou dos centros, de norte a sul, em escola de gente rica ou escola de gente pobre. As homofobias nas escolas não encontram limites ou barreiras; ao contrário tem tido fluido, combustível aditivado e regulagem periódica. 

Dez por cento do PIB para educação? Qual educação? Que amedronta, que bate, ridiculariza e expurga de sí que não se apresenta como é esperado?
Royalties do petróleo para a revolução do tablet e da tela interativa. Qualidade em educação não é aprovação em vestibular, nem aula de direito administrativo, processual ou constitucional para concurso. Queremos mais escolas da concorrência, da competição, dos índices  ou da fraternidade, da sororidade, do coletivismo, do senso ecológico, e do respeito mutuo? 

sábado, 23 de março de 2013

Tieta do Agreste contra a transfobia

A telenovela Tieta exibida pela Rede Globo em 1989, adaptado da obra de Tieta do Agreste de Jorge Amado.
A personagem Ninete, interpretada por Rogéria é motivo de discussão entre Tieta e seu par amoroso, Ricardo, onde a suposta normalidade de alguns é posto a prova. De fato o passado as vezes é mais moderno que o presente.

Imperdível!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Material para educadoras e educadores Dia Internacional de Contra Homofobia, Lesbofobia e Transfobia!

O Projeto Diversidade na Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro produziu esse material para a mobilização de educadoras e educadores para o Dia Internacional de Contra a Homofobia, Lesbofobia e Transfobia!
Compartilhe entre amigas e amigos, envie para educadorxs que conhece e para as escolas, o material é gratuito! Para mais informações www.pr5.ufrj.br/diversidade




quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

E as travestis e transexuais na escola, onde estão?

Em maio do ano passado, o Conselho Estadual de Educação do Estado do Ceará autorizou o uso do nome social de homens e mulheres transexuais e das travestis dentro das instituições de ensino do estado.
http://www.youtube.com/watch?v=921FNTrOsdA
O nome social é o nome com o qual a pessoa se identifica segundo sua condição de gênero. Isso porque o seu nome registrado oficialmente, ao nascer, não reflete sua real identidade de gênero.
No Brasil ainda é muito complicado a alteração de nome para pessoas transgeneras, marcando de inumeras dificuldades e constrangimentos a vida dessas pessoas. O uso de qualquer serviço público, por exemplo, torna-se um transtorno.
Para nos atermos as instituições de ensino, isso também é muito preocupante. É importante lembrar que a regulamentação por si só não é suficiente, é preciso explicar para professoras, funcionárias e alunas/os o porque disso ser tão importante. Porque algo que a rigor é tão simples - chamar as pessoas pelo nome que lhe confere dignidade, pode ter um imenso significado positivo para alguns, para outros ser 'uma besteira' e para outros um ultraje?

domingo, 20 de janeiro de 2013

29 de janeiro. Dia Nacional de Visibilidade de Travestis e Transexuais!


Travesti, o teu Preconceito.

O azul cálido da parede contrastava com o azul de fora da esquadria. E era aquele azul que eu
sempre quis buscar.
Eu olhei minha face no espelho. Eu, no holograma minucioso com detalhes agudos, eu me enxergava nítida, como numa poça de chuva, depois do turbilhão que se passava dentro da minha cabeça. E, sim, eu conseguia sorrir mesmo desfigurada. Eu me vi mulher naturalmente como se sempre houvesse sido. Eu experimentei minhas formas como se apenas tivesse tido a paciência de esperá-las desabrochar, como uma menina boba que anseia por seios ainda aos 12 anos. Eu me vi completa e absorvi cada dia como se fosse o último. Porque a dádiva de estar viva no Brasil sendo uma travesti ou transexual é quase um milagre divino.
Nós somos a mutação natural do que a natureza falhou em esculpir desde o início. Eu observei amigas sendo massacradas, homenageadas depois de morta como se o mérito de ter existido bastasse.
Não, a vida não se trata somente de existir ou não, é preciso sobressair, edificar, pisar na terra e sentir-se viva mesmo aos prantos. Mesmo que a tal terra seja ao lado de uma cova de uma amiga que morreu por motivo torpe.
Somos travestis e transexuais aos montes, mulheres ceifadas do direito de parir por um erro de DNA. Como se já não bastasse isso, somos privadas de termos amor, o nome que bem quisermos, e temos travado na linha fria da vida o direito também de caminhar como qualquer mulher, seja ela feliz ou não.
Não, não são os seios e os cabelos compridos que me fazem plena! Porque o que adquiri com o tempo não me fez travesti. Eu sempre fui. Eu turbinei meu corpo, fiz o alinhamento dos quadris, a calibragem do meu eixo, e, na busca incessante de felicidade, eu, talvez, tenha esquecido de trocar as velas do coração.
Mas aí eu me indago: De que serve o coração em certos momentos? Para outra travesti? Para uma transexual? A não ser para acomodar balas ou faca de transfórmico ou ainda desamor do inaceitável.
Somos travestis e transexuais aos milhares, guardadas, lacradas dentro de contêineres esperando uma liberação federal para que possamos ser distribuídas nas prateleiras da vida.
Somos as tais bonecas do mau gosto que as mães não comprariam, que os pais esconderiam e que os filhos teriam curiosidade de tocar e pasmariam em descobrir que além de falar também somos dotadas do poder insano de amar. Bicho, mulher, com instinto maternal que abraça a criança desesperada que a família expulsou de casa, mas uma cria da vida exposta ao genocídio constante de almas.
Sim, minha Sim, minhas caras e meus caros, somos as humanas pré-históricas, objetos de pesquisas e estudos científicos para que não se descubra nada além de incompreensão. Somos nossas próprias mães, pais, aconchego e polícia, somos das casas, das ruas, dos hospitais, das delegacias, somos fruto da falta de entendimento entre o civil e o parlamentar, talvez. Mas creio eu que somos totais vítimas da falta de educação de um país onde não se respeita o que vai além do seu entendimento. E assim com tudo, desde a religião ao próprio amor.
Travestis, transexuais, transgênero, lésbicas, gays, intersexuais, bissexuais, pansexuais,
travestis. Travestis. Travas em ti o teu preconceito porque a vida já é difícil demais para todos nós”.
Obrigada.


Poema de Rafael Menezes, declamado por Keila Simpson, na II Conferência Nacional LGBT

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Existem prioridades na luta?


 Transcrição de trecho do livro "Devassos no Paraíso" de João Silverio Trevisan. Militante do movimento LGBT (na época Movimento Homossexual) desde a época da ditadura, fundador do grupo Somos e do jornal Lampião na Esquina.
Existem lutas políticas mais importantes que outras? Quem define nossas pautas de militancia?
O texto recupera um pouco da história da militancia LGBT em nosso país e seus embates com a esquerda universitária por um lugar ao sol das lutas legitimas.









Capítulo 2 - Novas idéias no front, pág 343. - Devassos no Paraíso
Nosso pequeno grupo se encontrava num impasse quando, em 8 de fevereiro de 1979, teve a oportunidade de estrear num debate público, na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo, então um dos pulmões do progressismo oficial brasileiro. O auditório estava abarrotado. E nosso discurso político ainda não tinha amadurecido. À mesa, eu e outros representantes do grupo tínhamos tomado calmante e alguns sofriam de diarréia. Como era de se esperar, as posições se encarniçaram. De um lado, estudantes e profissionais da esquerda universitária protestavam sua fidelidade ao dogma da luta de classes e ao carisma do proletariado. De outro, nós reivindicávamos a originalidade de nossa discussão e independência de nossa análise, não abrangidas necessariamente pela luta de classes, mas nem por isso menos preocupados com a transformação social. A primeira posição representava a “luta maior”, segundo a qual haveria prioridades revolucionarias – e a prioridade máxima era, justamente, a luta do proletariado que deflagaria e conduziria a revolução em seu sentido mais abrangente, sendo o demais irrelevante e até divisionista. Diante dela, nós éramos a “luta menor”, portanto secundária, enquanto contraposição que ousava contestar isso que nos parecia uma sacralização da classe operaria; na melhor das hipóteses, não passávamos de “minorias” – nome, aliás, da série de debates da qual estávamos participando. Na noite anterior, já os negros, que vinham se organziando contra a discriminação racial e pela afirmação de sua cultura, independentemente da luta partidária, tinham sido massacrados por grande parte do público (de brancos), sob acusação de estar promovendo uma reles “discussão existencial” em torno de sua problemática. Como se previa que num debate inédito sobre homossexualismo o auditório estava cheio de bichas e lésbicas, nós da mesa combináramos quejogaríamos as perguntas de volta ao público, sempre que possível, para que ele assumisse a briga sem necessidade de porta-vozes. Quando, no decorrer da acalorada discussão, um esquerdista ortodoxo (na verdade, uma bicha enrustida que eu conhecia) observou que a luta homossexual não passava de uma escamoteação da luta de classes, não contive minha informação: subi numa cadeira e pedi às pessoas do auditório que relatassem fatos concretos de como nós homossexuais éramos escamoteados  justamente em nome da luta de classes. A reação foi fulminante. Homens e mulheres, visivelmente emocionados e sem medo de aparecer publicamente como homossexuais, levantaram-se para relatar, em alto e bom som, experiências pessoais de discriminação de setores progressistas contra eles, por sua orientação sexual. Assim foi citado o exemplo de uma professora daquela mesma universidade, que solicitara aos alunos um trabalho escolar analisando os motivos da ausência de homossexuais entre os operários. Essa era, na época, a mesma opinião do então messiânico líder sindical Lula, que definira o feminismo como “coisa de quem não tem o que fazer”. Como se podia esperar, foram trocados xingos entre representantes do movimento estudantil e homossexuais ali presentes – sinal de que já sabíamos enfrentar e não pedíamos desculpas pelo que éramos . “O importante é a liberdade, que inclui o direito de cada um ir para a cama com quem quiser”, gritava uma estudante homossexual. “Se não for para caminhar juntos, então eu quero que os homossexuais vão à puta-que-pariu”, contestava um jovem esquerdista. Ao que outro homossexual, da platéia, gritava: “O problema de qualquer revolução é saber quem vai lavar a louça depois.” Risos, apupos, palmas. Ao final das três horas de debate, nossas camisas empapadas de suor davam a sensação de que o movimento homossexual brasileiro acabava de conquistar o espaço que lhe era devido. Nossa luta estava finalmente na rua. Emocionados e nos beijando em público, já não sentíamos nenhum pudor ideológico. Só não sabíamos que aquele nosso primeiro enfrentamento com a esquerda universitária não seria o último, nem o mais violento. Meses depois, fomos informados de que, na mesma faculdade onde ocorrerá o debate, um ativista guei (que gostava de se apresentar, provocadoramente, com o nome feminino de Taís e desfilar travestido pelas ruas noturnas de São Paulo) tinha sido atraído para um bosque nas vizinhanças e aí recebera uma surra, quelhe custou um dente quebrado; enquanto o espancavam, os quatro militantes esquerdistas (seus conhecidos) acusavam-no de estar tentando dividir a luta do proletariado e o exortavam a parar com “essa frescura de movimento homossexual”.